A Associação Catarinense de Engenheiros nos seus 88 anos teve papel relevante na criação da UFSC e, em especial, os cursos de Engenharia. Já temos estes relatos em publicações nossas. O importante será como conciliar uma universidade com uma associação desde que temos alguns objetivos comuns que são divulgar conhecimento técnico, entre outros. Esta missão convergente pode ajudar em muito o tripé acadêmico e constitucional constituído do ensino, pesquisa e extensão; aqui vai mais se falar nesta última. Como justificar este entrelaçamento?
Se observa muito a ausência de estudantes, em especial da UFSC em eventos da ACE e sempre se pergunta pela razão. Uma das maneiras de se descobrir e mesmo minorar este afastamento é aproximar estas duas instituições, e esta iniciativa partiu da ACE tendo em vista a grande repercussão que teve na sociedade local no atraso da volta à normalidade da UFSC após a pandemia. Com a nova gestão, a presidência da ACE visitou protocolarmente as novas autoridades acadêmicas e lançou a ideia de alocar alguns eventos na renomada instituição acadêmica; e assim tivemos o evento ELETRA, o seminário sobre a Infraestrutura Elétrica pelo foco na produção de energias renováveis. Neste surgiram muitos tópicos de pesquisa entrelaçados com produção e novas demandas tendo em vista o caráter pronunciadamente inovativo da geração deste tipo conhecido anteriormente como energias alternativas. Daí se deve aproveitar o entrelaçamento entre os componentes do tripé acadêmico.
A produção e por conseguinte sua difusão de um conhecimento tem um caminho lógico, dentro de uma certa simplificação ao se explicar. Geralmente se conhece uma universidade como local da sociedade para se apropriar do conhecimento por meio do ensino. Entretanto, esta transmissão do conhecimento via ensino não aconteceu por acaso e nem sempre ocorreu da mesma forma; e no setor tecnológico, a universidade se diferenciou. A discussão sobre o funcionamento de uma universidade a partir deste ponto parte para uma complexidade crescente, mas vai se simplificar aqui.
Sendo a ACE uma associação de engenheiros e demais profissionais técnicos do Sistema CONFEA CREA, se usa estes profissionais para falar sobre a geração do conhecimento; este precisa ser ensinado visando o atendimento de uma proteção da sociedade por credenciamento neste Sistema.
Nem sempre foi assim, mas se intensificou pela Revolução Industrial que determinou uma necessidade de cada vez atender novas demandas da sociedade, por exemplo, produzir mais e melhor aço, de modo a se ter melhores locomotivas e trilhos, bem como melhores propulsores de navios e locomotivas; toda esta demanda se destina ao atendimento da expansão de mercados. Neste tempos, o meio de produção se misturava com a busca de melhores resultados por se constituir de uma equipe de profissionais ligeiramente diferenciados (por tipo de serviço) encarregados de produzir e ouvir demandas externas. Esta busca constante da sociedade necessitou formar uma base de pessoal que sabia como fazer e os financiava para fazer melhor; isto originou a pesquisa estruturada.
A partir destes impulsos de natureza pecuniária se necessitou de mais pessoal para instruir e melhorar o quadro de engenheiros formando então um núcleo de educação tecnológica. As então escolas de engenharia institucionalizaram o ensino misturado com alguma tentativa de melhorar os produtos, ou associando-se à pesquisa incipiente. Aos poucos as escolas se afastaram da produção e se aproximaram da sociedade. Assim a sociedade mandava para estas escolas técnicas superiores e estas ensinavam o que sabiam, mas não necessariamente ligados à produção.
Aí apareceu a extensão ou seja, pelo afastamento entre a produção e o meio de ensino, a sociedade passou a ter menor (e tendendo a pouca) interlocução com o meio de produção. Com isto, a “escola” passou a proporcionar e necessitar do contato direto com a produção, aparecendo a parte final do tripé: a extensão. Esta passou a ser uma espécie de respiradouro da produção, se conectando solidariamente com a pesquisa. A extensão seria o elo fundamental na cadeia de produção do novo conhecimento, ou passou a ser o motor da inovação.
Com isto, ao aproximar a ACE da UFSC se tenciona propiciar um elo para atrair de maneira mais direta e objetiva os estudantes. Naturalmente, que nem todo estudante vai trazer uma necessidade a ser resolvida, mas será mais um elemento ao caldo chamado ecossistema que pode, em caso de muito sucesso e muito refinamento, se transformar num Hub tecnológico que pode gerar start-ups transformadoras.
Nossa expectativa pode ir a estas alturas, mas o que se deseja é aproximar as duas entidades para que casualidades como estas acima possam surgir. Tudo depende mais das pessoas que das instituições, mas estas devem facilitar o encontro das pessoas.
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