Confira o pronunciamento Pronunciamento do Presidente da ACE no CREA-SC na entrega da medalha do mérito.
Muitos agradecimentos a serem feitos: lado familiar e do lado profissional.
À minha mãe devo muito, além da vida e a criação/educação, pois devo me lembrar das vezes que me obrigava a estudar para enfrentar as corredeiras “rio acima” da transição de uma escola pública de Palhoça em 1959, a uma particular do Rio de Janeiro e desta à reputada melhor escola do Brasil, o então CMRJ.
Profissionalmente, devo a minha chegada à ACE—que me reabriu as portas do mundo da engenharia—graças ao amigo engenheiro Ivan Coelho e às árduas tarefas delegadas pelo presidente Celso, reconhecidas e encaminhadas pela nossa Diretoria, com atenção à vice Maria Elsa.
Falando pelos demais homenageados, difícil missão, devo remeter a fala aos mais sérios problemas enfrentados pelo Brasil entre estes a formação de profissionais que enfrentem com sucesso as graves situações atuais. Devo tirar desta lista a questão da corrupção que grassa atualmente, pois isto é mais caso de polícia que assunto atinente ao CREA e ao sistema CONFEA; mas não devemos deixar de ao menos mencionar.
Voltando aos problemas, estando me afastando lentamente da Academia devo testemunhar que os currículos das universidades estão desatualizados, que as universidades brasileiras são mais dirigidas como serviço público que orientadas ao conhecimento; daí a nossa inexistência de prêmios Nobel. O fato mais grave e altamente relevante é o sistema de escolha dos gestores que é o democrático onde a meritocracia nem estaria em segundo plano. Nenhuma instituição de nível superior no mundo que tenha em seus quadros recebedores da maior honraria científica existe esta distorção tão acentuada, onde um aluno que nem sabe o que é uma universidade tem praticamente o mesmo poder de decisão de um professor doutor-pesquisador. Neste sistema viciado só resta a formação de espaços corporativados para defender seus interesses (e não os da instituição universidade—que ficou de lado) que acaba criando dificuldades intransponíveis para reformas deste e de inúmeros outros. Restam apenas a brilho individualizado de mentes brilhantes de muitos alunos e de poucos professores para produzir profissionais da mais alta qualidade, mas em pequeno número face aos desafios do país.
Infelizmente não é apenas a universidade que tem seus erros e sim todo o sistema de ensino, a começar do básico que está necessitando de reformas urgentes para deter a evasão escolar e que não promove chegada dos remanescentes no curso superior com baixo nível de escolaridade, nem mesmo ao mercado de trabalho. Falar em produtividade neste meio é arriscar-se; na última greve de professores deste nível constava um item de pauta extremamente preocupante: pediam o fim da meritocracia!
Voltando à engenharia, um esclarecimento precisa ser dado na questão da água e seu estado lastimável que encontramos no Brasil. Notar que a primeira grande revolução tecnológica se deu quando o homem conseguiu dominá-la e daí obter seu alimento sem precisar se locomover. Para conseguir este domínio, foram geradas pequenas obras de armazenamento, ordenamento e distribuição de água para agricultura ; este foi o começo da engenharia e o fim do nomadismo. Criou-se o excedente de produção; fez criar a necessidade de armazenar sua produção, bem como comercializar, fazer acordos e registrá-los, enfim, criou a cidade como ponto de encontros para tudo isto. Pode-se dizer que, entre muitas aquisições para humanidade, pode-se destacar a criação e estabilização das linguagens (escritas e faladas), forma primordial do relacionamento humano, bem como a Economia, o Direito e todas as disciplinas, que começaram pelos efeitos das obras de engenharia.
Tudo que existe hoje nas cidades adveio desta revolução de 10 mil anos atrás: até a consolidação dos idiomas, sem falar em todo desenvolvimento, sempre baseado no encontro de pessoas. Foi muito mais relevante que a Revolução Industrial, que apenas acelerou a urbanização. E dois grandes problemas de hoje que são a própria água e sua principal consequência, que é a cidade vem da desconsideração da sua genética desta primeira Revolução Tecnológica. As cidades necessitam apenas de uma ínfima porção da água (8% seria uma tempestade num copo d’água?), pois tanto processos agrícolas (69%) como industriais (23% e aí os problemas também para os industriais—FIESC) consomem um vasto percentual. Associado a isto tem a nossa matriz energética, antes baseada na energia hídrica, mas deturpada que foi ao se permitirem apenas “barragens fio d’água”, cuja inércia hídrica é tão pífia quanto o seu resultado: para evitar danos ambientais pelo alagamento das barragens criam-se outros danos pela ligação de térmicas e poluição visual pelas eólicas.
Todos os sistemas de produção de energia tem seu lugar e sua complementaridade é que está sendo esquecida. Isto é problema para nós engenheiros civis, eletricistas, ambientais, geólogos, cartográficos, meteorologistas e industriais, resolvermos de modo a garantir água e energia para as cidades e sem esquecer do campo (dos agrônomos), que se colocam não apenas hoje em dia mas como sempre, devem continuar indissociáveis.
E a cidade como encontro vive o dito problema de mobilidade que veio da violação de seu princípio básico do fim do nomadismo que é a necessidade das pessoas terem acesso às outras. Como sempre tenho me manifestado, enquanto se usar o termo mobilidade (este para veículos) ao invés de acessibilidade (este para pessoas), este problema urbano nunca terá solução.
Era isto o mínimo que gostaria de falar.
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