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HISTÓRIA DA ACE

ACE – Associação Catarinense de Engenheiros - o grande órgão emulador

Fundada no ano de 1934, a ACE traz no pioneirismo uma de suas principais marcas. Sob o signo da Nova Constituição Brasileira, votada e promulgada naquele ano, a ACE representava a percepção da sociedade quanto aos direitos individuais e da necessidade de lutar, em conjunto, pelos pleitos coletivos das diversas classes profissionais. O associativismo vivia dias de grande impulso e, em terras catarinenses, 26 engenheiros se unirampara fundar uma entidade que os representasse: surgia a ACE. Esse foi o embrião de todo o sistema organizacional da engenharia em Santa Catarina, sendo originários dessa iniciativa a formação do CONFEA, do CREA e dos Sindicatos de classe. Todos os movimentos que hoje fortalecem a respaldam o exercício da engenharia em Santa Catarina, e seu reflexos na sociedade catarinense tem a sua origem no mérito da criação da ACE. Desde a fundação aos dias atuais são 80 anos de profícuo trabalho em prol do engrandecimento da profissão e dos seus profissionais.

1944 a 1954

Tempo de guerra e lutas

Presidentes dessa década:

Thiers de Lemos Fleming

Domingos Emerich Bezerra da Trindade

Raul Olimpio Bastos

Cid Rocha Amaral

João Eduardo Moritz

Heitor Ferrari

O ano de 1944 começou tumultuado no Brasil com a criação oficial do Departamento Federal de Segurança Pública, embrião do que é hoje a Polícia Federal. Criado pelo Presidente Getúlio Vargas para acelerar os meios de repressão aos movimentos de libertação no Brasil, o órgão cometeu, durante aqueles anos, muitos desmandos e um verdadeiro terrorismo em muitos dos locais onde naturalmente grassava a liberdade de expressão, tal como o meio universitário. Santa Catarina e Florianópolis não ficaram de fora dessa vigilância ostensiva e, à diretoria da ACE, só restou manter ativa e discreta a entidade, para que os legítimos direitos de seus associados fossem defendidos. Mas todos esses fatos internos acabaram abafados pelo clamor da II Guerra Mundial que rodava mundo, envolvendo na sua voragem país atrás de país. Com o Brasil não foi diferente, e no mês de julho de 1944 o primeiro contingente da chamada Força Expedicionária Brasileira, com quase seis mil homens, partiu do Rio de Janeiro rumo a Itália e incorporou-se ao Exército dos Estados Unidos, que lutava naquela região. Com esse contexto conflagrado em nível mundial, à diretoria da ACE, desde sua fundação e até aquele momento presidida com sensatez e prudência por Haroldo Paranhos Pederneiras, coube simplesmente existir enquanto entidade, sem pensar em realizações, aquisições ou grandes feitos, num período negro. Em tempos de guerra, sobreviver apenas é mais do que heróico ato. Agravada pelos fatos de que ainda havia poucos profissionais da engenharia no mercado, espalhados por todo o Estado de Santa Catarina e a ausência de uma comunidade acadêmica local, a situação da ACE era de simples sobrevivência. Naqueles tempos por assim dizer trágicos, enquanto a guerra grassava como flagelo destruidor consumindo tudo a sua volta, as pouquíssimas obras públicas que foram levadas a efeito demandavam a contratação de profissionais de outros estados do país, já que aqui eram escassos e sempre assoberbados. Somando-se a isso o fato de que o deslocamento e a comunicação eram praticamente inexistentes ou muito dificultados, é possível imaginar que a entidade simplesmente deixou-se existir, sem grandes atividades que pudessem inclusive atrair desnecessária atenção sobre seus poucos e aguerridos membros. Uns raros debates davam conta de atualizar os profissionais a respeito dos fantásticos “modernismos” que vinham surgindo, tais como o aparecimento do então revolucionário sistema de ar condicionado e a iluminação fluorescente.

Em 1945 o mundo começou, lentamente, a acordar daquele horrível pesadelo, tanto mundial quanto nacionalmente. No Brasil, já em 28 de maio foi promulgado o terceiro Código Eleitoral Brasileiro, que permitia as eleições diretas para o presidente da República e governadores dos Estados. Enquanto o país assistia o retorno da sua Força Expedicionária, em setembro era criado o Partido de Representação Popular por Plínio Salgado e em dezembro, finalmente, aconteceram eleições gerais diretas para Presidente da República, Senado Federal e Câmara dos Deputados. O General Eurico Gaspar Dutra foi eleito 16° presidente do Brasil por voto popular na eleição presidencial direta e uma nova era começava, lentamente, a se instaurar no Brasil e no mundo.

O ano de 1945 marca, principalmente, o final da Segunda Guerra Mundial, maior conflito militar global, que durara de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo — incluindo todas as grandes potências — organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo. Foi a guerra mais abrangente da história, com mais de 100 milhões de militares mobilizados. Em estado de "guerra total", os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade econômica, industrial e científica a serviço dos esforços de guerra, deixando de lado a distinção entre civis e militares. Marcado por um número significante de ataques contra civis, incluindo o Holocausto e a única vez em que armas nucleares foram utilizadas em combate, foi o conflito mais letal da história da humanidade, resultandoentre 50 e 70 milhões de mortes.A guerra terminou com a vitória dos Aliados em 1945, alterando significativamente o alinhamento político e a estrutura social mundial. Enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) era estabelecida para estimular a cooperação global e evitar futuros conflitos, a União Soviética e os Estados Unidos emergiam comosuperpotências rivais, preparando o terreno para uma Guerra Fria que se estenderia pelos próximos quarenta e seis anos. Nesse ínterim, a aceitação do princípio de autodeterminação acelerou movimentos de descolonizaçãona Ásia e na África, enquanto a Europa ocidental dava início a um movimento de recuperação econômica eintegração política.

Em 1946, a data de 18 de setembro marca a promulgação da quinta Constituição Brasileira,  pelaAssembleia Nacional Constituinte. Este ano ainda registraria um fato muito importante para o Estado de Santa Catarina quando, em 19 de setembro, Nereu Ramos foi eleito Vice-Presidente do Brasil. No âmbito da ACE, finalmente a presidência da entidade trocaria de mãos, tendo Haroldo Paranhos Pederneiras sido substituído por Thiers de Lemos Fleming, que permaneceu no cargo até maio de 1947quando foi, então, sucedido por Domingos Emerich Bezerra da Trindade.Thiers de Lemos Fleming era sobejamente conhecido e renomado pelo seu trabalho como chefe da comissão de estudos do Porto de Itajaí, que levou ao profundo melhoramento daquele local, trabalho que empreendera na década de 1920. Já Domingos Emerich Bezerra da Trindade era natural de Laguna, onde nascera em 1915, e foi renomado professor de matemática, tendo lecionado em Florianópolis e no Rio de Janeiro.

Digna de nota naquele final da década de 1940, no que tange a engenharia brasileira, foi a inauguração, em 2 de abril de 1947, da Ponte Internacional-Augusto Justo/Getulio Vargas, na cidade de Uruguaiana/RS. É o elo de ligação entre o Brasil e a Argentina. Mede 1919 m de comprimento por 27m de largura, com rodovia e ferrovia. Foi inaugurada pelos Presidentes Eurico Gaspar Dutra (Brasil) e Juan Domingo (Argentina).

Outro fato a marcar o final da década como referência importante para os profissionais da engenharia foi o da exploração do petróleo no país, cujas jazidas já vinham sendo estudadas e exploradas, ainda que timidamente, desde a década anterior. Após a fundação do Centro de Estudos do Petróleo, em 1948 e que culminaria com a fundação oficial da Petrobrás, em 1953, foi travado um grande debate nacional em relação à política do petróleo. O debate girava em torno da admissão da entrada de empresas exploradoras estrangeiras no país, ferrenhamente combatida pelos nacionalistas que, inclusive, deflagraram a famosa campanha ”O petróleo é nosso”,patrocinada pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo. No centro do debate, os profissionais da engenharia discutiam meios e políticas para a exploração.

Em 1954 Getúlio Vargas, que retornara ao poder, suicidou-se com um tiro, involuntariamente abrindo caminho e dando início a escalada de Juscelino Kubitschek de Oliveira, que seria um dos presidentes brasileiros a exercer maior importância no segmento da engenharia nacional, capitaneando a construção de Brasília.

Na presidência da ACE haviam se sucedido Raul Olimpio Bastos nos anos de 1948 e 1949; Cid Rocha Amaral no biênio 1949/1950 e finalmente João Eduardo Moritz de 1950 a 1952. Moritz foi personalidade destaque durante décadas à frente da engenharia catarinense. Após formar-se em engenheira elétrica pelo Instituto Mecânico e Elétrico de Itajubá (MG), em 1929, trabalhou em grandes empresas, como a firma Carlos HoepckeS.A.e a CEISA-SC. Participou do Conselho Estadual de Educação e também da criação das Escolas de Veterinária em Lages, de Administração de Empresas da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), e da Companhia de Habitação do Estado de Santa Catarina (COHAB). Seu exemplo de vida chegou a servir de inspiração para a poetisa e escritora LeatriceMoellmann, que produziu o livro "João Moritz e o Desenvolvimento de Florianópolis no Século XX".  Em 1952 o Engenheiro Heitor Ferrari substituiu Moritz à frente da ACE, permanecendo no cargo até 1955.

Fato dos mais importantes para o segmento da engenharia aconteceu também nessa década, com a criação da CELESC. Até a metade dos anos 1950, as necessidades energéticas em Santa Catarina eram supridas por pequenos e médios sistemas elétricos regionalizados, geralmente mantidos pela iniciativa privada. Ainda na primeira década do século, por exemplo, Florianópolis e Blumenau já dispunham, inclusive, de sistemas de iluminação pública.A Capital era abastecida pela Usina Maroim (inaugurada em 1908) e Blumenau pela SaltoWeissbach, datada de 1916. Joinville passou a ser atendida pela Usina Piraí também em 1908 e, em 1913, a Usina São Lourenço entrou em operação, beneficiando o município de Mafra. Foi então na década de 1950 que o Governo Estadual reuniu essas empresas dispersas pelo território catarinense sob um grande guarda-chuva que, em 1955, passou a atender pelo nome de CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina.

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